terça-feira, 23 de abril de 2013

José Dirceu descarta outra intervenção no PT/MA e ecoa insatisfação com Roseana

O ex-ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da República, José Dirceu (PT) disse ontem, depois da palestra sobre os 10 anos dos governos Lula/Dilma e os 32 anos do Partido dos Trabalhadores, que o desejo da maioria dos petistas maranhenses prevalecerá em relação à eleição de 2014.
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“Ainda é cedo para 2014, mas o PT deve se posicionar pela decisão da maioria. O PT vai tomar sua decisão no momento adequado”, afirmou José Dirceu.
Postura bem diferente da adotada em 2010, quando José Dirceu foi um dos principais operadores para intervir na decisão que o PT havia tomado no Maranhão (apoiar a candidatura de Flávio Dino), e jogou o partido numa aliança com a governadora Roseana Sarney, contrariando a vontade de grande parte dos companheiros locais.
Se for respeitado o voto, a democracia, deu a entender Dirceu, dificilmente a militância petista seguirá com o candidato a governador da oligarquia. O gesto de Dirceu demonstrado ontem em São Luís foi nesse sentido, já que o desprezo da governadora Roseana Sarney consigo e a vergonha com a sigla foi tão grande que evitou qualquer registro fotográfico do mensaleiro fosse feito do seu lado. Um desrespeito ao partido e, querendo ou não, um de seus principais quadros.
José Dirceu sentiu na pela a humilhação que os petistas do Maranhão sofrem nas mãos do clã Sarney.
A declaração de Dirceu, portanto, ecoou nada menos que a insatisfação dos petistas com o governo Roseana. Sinal evidente de que o grupo Sarney não poderá contar, por conta desses e outros fatos, tão facilmente com o PT na eleição do ano que vem.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

HOJE É DIA DO ÍNDIO, POUCAS VITÓRIAS MUITAS DECEPÇÕES.

Demarcações paralisadas contrastam com comemorações


Um dos maiores sítios arqueológicos do Brasil e palco de grandes aldeamentos e reduções jesuíticas, o Oeste do Paraná, em especial as regiões de Guairá e Terra Roxa, tem ganhado destaque pelo clima de tensão entre produtores rurais ligados a entidades classistas e os povos indígenas.

Por Júlio César Carignano




Crianças das aldeias de Guairá e Terra Roxa, no Paraná / fotos: Júlio Carignano

Contrastando com as atividades que estão sendo desenvolvidas ao longo da semana alusiva ao Dia do Índio, comemorado no dia 19 de abril, estão as demarcações paralisadas, as poucas áreas em processo de identificação, o esvaziamento da Fundação Nacional do Índio (Funai) e o clima de hostilidade – com incentivo a intolerância aos povos originários.

O vereador Paulo Porto (PCdoB), que atua junto às comunidades indígenas, participou de atividades no município de Diamante do Oeste, Guaíra e Terra Roxa. Indigenista há 23 anos, Porto esteve em contato com lideranças destas comunidades no sentido de fortalecer a cobrança junto a FUNAI e o governo brasileiro para que os processos de demarcações sejam viabilizados e acelerados.

O parlamentar fez um levantamento junto às lideranças sobre a atual situação dos povos tradicionais. Os locais de maior tensão são Guairá e Terra Roxa, municípios onde não há nenhuma área demarcada. Há onze aldeamentos na região, sendo oito em Guairá e três em Terra Roxa. Por lá os processos demarcatórios estão paralisados e existem apenas três áreas em processo de identificação, as áreas de Marangatu, Tekoha Porã e Araguaju. “Esta lentidão injustificada vêm criando uma insegurança legalizada tanto para os indígenas como para os eventuais proprietários de terras, gerando esse clima de tensão”, comenta.

Outro apontamento de Porto é para o tamanho das áreas a serem demarcadas. “Existe uma mentira sendo ventilada pelas lideranças ruralistas, em especial os grandes agricultores, de que a área a ser demarcada seria algo em torno de 100 mil hectares, o que é uma bobagem! Não existe esta hipótese e essa afirmação mentirosa somente está trazendo um clima de hostilidade completamente desnecessário”, afirma. Paulo Porto aponta que se todas as áreas fossem realmente demarcadas teríamos aproximadamente 9 mil hectares somando os onze aldeamentos.

Para o comunista, a dificuldade nas demarcações está no processo de esvaziamento da Funai. Porém, ele explica que esse não é um problema novo. “Está faltando uma decisão política mais firme de priorizar esta questão territorial no Oeste do Paraná, que está se tornando crônica e cada vez mais contundente”.

Área de tensão

Porto visitou uma das aldeias com maior possibilidade de conflito: o Tekoha Y’hovy, na Vila Eletrobrás, em Guaíra. Área com 40 hectares, por lá vivem 27 famílias, aproximadamente 100 indígenas. “Foi ordenada a retirada de nossa da aldeia, mas a Funai apresentou um recurso", diz o cacique Ilson Soares sobre a ordem judicial. Também não há qualquer indicação de área para abrigar essas famílias diante do iminente despejo.

Ilson fala sobre o clima na região. “Os grandes produtores de terra conseguiram mudar a opinião da sociedade e a população começou a nos olhar como bandidos. O sindicato rural tem colocado medo em pequenos produtores, espalhando mentiras que iríamos tomar várias terras começando de Guaíra até Foz do Iguaçu”, diz o líder guarani.

Porto também comenta a respeito. “Está se construindo um poderoso clima anti-indígena, capitaneado pela Sociedade Rural de Palotina a partir da socialização de inverdades em forma de preconceito. Temos alertado de forma reiterada que este tipo de política do ódio promovida pelas entidades patronais e determinadas lideranças políticas, inclusive deputados, pode terminar em tragédia”, comenta, alertando para a responsabilidade de sempre buscar o diálogo e jamais incentivar a violência e a intolerância.

Para o vereador, há um processo de marginalização dos povos tradicionais, atualmente tratados como ‘inimigos do progresso’, como descrito em recentes faixas e outdoors confeccionadas em Guairá.

“Que progresso é esse? É um progresso de quem? Nós não queremos esse progresso, pois o progresso já levou nossos pais, nossos antepassados, nossas terras e parte da nossa cultura” questiona o cacique Ilson Soares.




Resistência

Em suas visitas às comunidades indígenas, Paulo Porto fez uma explanação a uma turma do Colégio Eron Domingues, de Marechal Cândido Rondon, que visitaram a aldeia de Diamante do Oeste. Porto explicou que é preciso entender que os índios não são todos iguais. “Existem povos indígenas com diferentes culturas, línguas, costumes e crenças. São mais de 300 povos de etnias diferentes em todo o Brasil, mais de 180 línguas vivas e de 4 a 5 povos que não tiveram contato algum com o não-índio”, explicou.

No Estado Paraná existem três etnias indígenas: os kaiguangue com aproximadamente 13 mil indivíduos, os guarani com cerca de 2,5 mil e os xeta, esse último em vias de extinção com cerca de 12 a 15 indígenas.



Questionado sobre os conflitos no Mato Grosso do Sul, o vereador afirmou que eles serão resolvidos a partir da aceleração dos processos de demarcações. “Nos últimos 10 anos foram mais de 350 assassinatos de indígenas no Mato Grosso do Sul. Todos esses crimes tiveram como vítimas lideranças das aldeias”.

Paralelo ao trabalho de indigenista, Porto afirma que o compromisso agora é redobrado com o mandato na Câmara de Cascavel e falou sobre as comemorações do Dia do Índio. “A comemoração deve estar pautada na luta na resistência destes povos, que a mais de 500 anos vem teimosamente persistindo em seus projetos históricos. Uma luta que se estende das aldeias, da luta pelos direitos, até as grandes mobilizações como está que aconteceu nessa semana no Congresso Nacional, quando centenas de indígenas de mais de 70 povos diferentes foram reivindicar seus direitos originários, entre eles, o acesso a terra tradicional”, concluiu.


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